Publicado em15/04/2021 12h32Atualizado em15/04/2021 14h12
O coordenador do estudo financiado pelo MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e divulgado na revista médica Ocular Immunology and Inflammation Journal, Dr. Rubens Belfort Jr., professor titular de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM) e pesquisador da RedeVírus MCTI – estima que a infecção provocada pelo novo coronavírus pode causar lesões graves vasculares nos olhos. A pesquisa, que está em fase de publicação, demonstra que os pacientes que desenvolveram a forma grave da doença podem ter comprometimento da retina e possíveis implicações neurológicas.
MCTI: Dr. Rubens Belfort Jr, como foi realizado esse estudo coordenado pelo senhor?
Esse estudo foi realizado em dois hospitais de São Paulo de complexidade diferente, e em pacientes com e sem necessidade de ventilação mecânica, para verificar se as alterações oculares tinham relação também com o tratamento, com a severidade da doença na fase mais avançada. E a pesquisa apresentou comprometimento, então, de 20% dos pacientes. Essas lesões podem ser causadas pelo vírus diretamente ou pela reação imunológica ao vírus. Isto é parte de uma outra pesquisa que nós estamos fazendo também nesta rede, que nós acreditamos que nas próximas semanas o resultado já possa estar concluído.
MCTI: A pesquisa apontou para o comprometimento da retina em 20% dos pacientes que desenvolveram a forma grave da doença. O senhor pode explicar como ocorrem essas lesões vasculares nos olhos?
A grande vantagem de fazer esse estudo na retina é que você consegue com imagens verificar o que pode estar acontecendo em outras partes do corpo, onde não dá para olhar dentro, tirar um pedaço a toda hora e ficar olhando, então, a retina é um biomarcador de lesões que podem acontecer em outras partes do organismo.
MCTI: Esses danos causados podem ser irreversíveis?
Esses danos causados muitas vezes são irreversíveis, porque, quando acometem a parte mais importante da retina, a recuperação não existe, esses danos podem estar de maneira semelhante acometendo a retina e também o nervo óptico.
MCTI: Qual a relação com o sistema neurológico? O estudo aponta para possíveis danos permanentes também no sistema nervoso central?
Acometendo o nervo óptico, há uma relação muito grande com o sistema neurológico.
MCTI: O senhor é pesquisador da RedeVírus MCTI e foi o pioneiro no estudo da relação entre a Covid-19 e os olhos. Em maio de 2020, foi publicado na revista Lancet um artigo do senhor que demonstrou que a retina era afetada pela doença. O que mudou com essa nova pesquisa?
Nós fomos os pioneiros na relação da Covid e a retina quando nós publicamos na revista Lancet em maio do ano passado. O que mudou com essa nova pesquisa é que agora nós entendemos muito mais os diferentes tipos de lesões que podem acontecer na Covid. Lesões mais visíveis e que, portanto, o exame de fundo de olho mostra e aquelas lesões que só outros aparelhos mais elaborados conseguem detectar. Essa pesquisa tem também a importância, de agora em diante, de correlacionar lesões da fase aguda com lesões crônicas, que nós sabemos, podem acometer cerca de 10% dos pacientes com Covid. E não há informação sobre o que acontece nos olhos dos pacientes acometidos com essa Covid longa, a Covid que depois de passada a fase aguda, continua a deixar sequelas e lesões.
Categoria: Ciência e Tecnologia
Fonte: Site do MCTI - https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2021/04/entrevista-prof-dr-rubens-belfort-jr-presidente-da-anm-e-pesquisador-da-redevirus-mcti
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